Voto de Fux no caso Bolsonaro abre brecha para anulação futura, em cenário semelhante ao da Lava Jato

Voto de Fux no caso Bolsonaro abre brecha para anulação futura, em cenário semelhante ao da Lava Jato

Presidente do TSE votou pela nulidade do processo por incompetência absoluta do STF, argumento que, se acatado posteriormente, poderia invalidar toda a ação penal.



Porto Velho RO - Em um desdobramento que ecoa o destino de processos da Operação Lava Jato, o ministro e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, votou pela condenação de Jair Bolsonaro, mas foi o voto vencido do ministro Luiz Fux que acendeu um alerta sobre o futuro jurídico do caso. Durante o julgamento desta quarta-feira (10), Fux defendeu a tese de que todo o processo é nulo por incompetência absoluta do Supremo Tribunal Federal (STF) para julgá-lo, abrindo um flanco para uma eventual anulação no futuro.

O Cerne da Questão Jurídica


O julgamento no TSE trata da acusação de que Bolsonaro liderou uma trama golpista para questionar a legitimidade das eleições de 2022 e manter-se no poder. A discussão sobre a competência para julgar o caso é técnica, porém crucial.

O ministro Fux argumenta que os crimes eleitorais alegados (como abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio) são de competência originária e exclusiva do TSE, e não do STF. Para ele, o Supremo só poderia atuar se houvesse conexão com um crime de competência da Corte, como os crimes comuns praticados por autoridades com foro privilegiado. Como a acusação focou em condutas tipicamente eleitorais, Fux entende que o STF teria invadido a esfera de atribuição do TSE, caracterizando uma "incompetência absoluta" – um vício processual grave que tornaria nulo tudo o que foi feito a partir dali, incluindo uma eventual condenação.

O Precedente da Lava Jato e o "Efeito Fux"

A referência à Lava Jato não é casual. Vários processos da operação, que resultaram em condenações, foram posteriormente anulados pelo STF sob o argumento de que a Vara de Curitiba era incompetente para julgar aqueles casos, que deveriam ter sido distribuídos para outras varas federais por meio de sorteio.

Agora, analistas jurídicos apontam que o voto de Fux planta a semente para um caminho similar. Se Bolsonaro for condenado pelo TSE, sua defesa poderá, no futuro, recorrer ao STF usando exatamente o argumento de Fux: a de que o processo nasceu no foro errado (o STF) e, portanto, é nulo. Com uma composição diferente da Corte ou uma mudensão de entendimento, essa tese pode ganhar força e anular todo o julgamento.

Um Futuro Jurídico Incerto


O voto de Fux foi vencido pela maioria dos ministros do TSE, que validaram a competência do STF para iniciar o processo, entendendo que as ações de Bolsonaro configuram um ataque à democracia e ao próprio processo eleitoral, indo além de um mero crime eleitoral.

No entanto, a manifestação de Fux deixa claro que a questão da competência não é um ponto pacífico e se transforma em uma potente arma jurídica para a defesa do ex-presidente. Isso significa que, mesmo com uma condenação, a batalha judicial estará longe do fim. O caso pode percorrer anos de recursos, com a ameaça de anulação pairando sobre ele, a exemplo do que ocorreu com condenações de outras operações.

A decisão final do TSE é aguardada para a pró semana, mas o voto de Fux já garantiu que as consequências desse julgamento reverberarão no cenário político e jurídico brasileiro por muito tempo.

Box explicativo: O que é Incompetência Absoluta?

É um vício processual que ocorre quando um juiz ou tribunal profere uma decisão sobre um assunto que, por lei, é de competência de outro. É considerado um erro grave, que fere a estrutura do Judiciário, e sua consequência é a nulidade de todo o processo, que deve ser reiniciado no foro competente.

Fonte. A redação 


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