Condenações da quadrilha envolvida no crime são consideradas marco na luta contra a impunidade de crimes contra servidores públicos em Rondônia.
PORTO VELHO, RO – O longo processo judicial que apurou o assassinato do procurador do Estado Sidney Sostele, ocorrido em 24 de agosto de 2011, em Cacoal, chegou ao seu capítulo final após mais de uma década de investigações, prisões e julgamentos. O caso, que chocou o estado pela brutalidade e pela tentativa de obstrução da Justiça, resultou na condenação de nove envolvidos, incluindo os mandantes e os executores do crime.
A trajetória do processo na Justiça é apontada por juristas e entidades de classe como um exemplo de perseverança das instituições, mesmo diante de um crime complexo que envolveu múltiplas instâncias.
O Crime que Abalou Rondônia
Sidney Sostele, então com 54 anos, foi assassinado a tiros em frente à Câmara Municipal, quando se dirigia ao seu veículo no estacionamento no bairro Jardim Clodoaldo, em Cacoal. A execução foi filmada por câmeras de segurança, que capturaram a chegada de dois homens em uma motocicleta e o momento dos disparos. As imagens foram cruciais para a investigação, inicialmente conduzida pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e posteriormente assumida pela Polícia Federal.
As investigações apontaram que o crime foi encomendado por motivação patrimonial. O procurador atuava em processos de reintegração de posse de terras na região, área de intensos conflitos agrários. O inquérito identificou que os mandantes eram fazendeiros que se sentiam ameaçados pela atuação firme de Sostele.
O Caminho da Investigação e as Condenações
O que se seguiu foi uma complexa operação para desvendar a cadeia de comando do assassinato. A Polícia Federal desmontou a estrutura que planejou e executou o crime, identificando desde os mandantes até que deu guarida aos assassinos antes do crime.
Os principais condenados são:
Valdir de Araújo Rocha (Valdir Rola) e Valdemir de Araújo Rocha: Irmãos e fazendeiros, identificados como os mandantes primários do crime. Foram condenados a penas que somam mais de 50 anos de reclusão em regime inicialmente fechado.
José Roberto Alves da Silva (Zé Roberto) e Edson Fernandes de Oliveira (Edson Negão): Apontados como intermediários, responsáveis por contratar e organizar a execução. Também receberam longas penas de prisão.
Os Executores: Admilson de Souza Mota e Ednei Ferreira da Silva (Ney), foram identificados como os autores dos disparos. Foram condenados a mais de 30 anos de prisão cada.
Além deles, outros envolvidos, como o suposto "laranja" que arrumou o carro acusado de fornecer a arma do crime, também foram sentenciados.
O Legado e a Luta contra a Impunidade
O desfecho do caso Sidney Sostele é frequentemente citado pelo MP-RO como uma vitória da Justiça, ainda que tardia. A persistência das autoridades policiais e do Ministério Público Federal (MPF), que atuou no caso, foi fundamental para garantir que todos os elos da cadeia criminal fossem responsabilizados.
Em nota, a Associação do Ministério Público de Rondônia (AMPRO) afirmou que "a conclusão bem-sucedida deste processo judicial envia uma mensagem clara de que crimes contra servidores públicos, especialmente aqueles que buscam intimidar a Justiça, não ficarão impunes. A sentença honra a memória do procurador Sostele e fortalece a instituição".
O caso também deixou um legado de maior proteção e segurança para membros do MP e juízes que atuam em regiões conflagradas, com a implementação de medidas de segurança mais rigorosas.
A família de Sidney Sostele, que acompanhou todos os julgamentos, manifestou, por meio de seu advogado, alívio com o desfecho legal, mas ressaltou que a dor da perda é irreparável. A condenação de todos os envolvidos trouxe, finalmente, um senso de justiça realizado para uma história que por anos foi um símbolo da luta contra a criminalidade em Rondônia.