Cheia do rio Madeira deixa rastros de destruição em comunidades ribeirinhas de Porto Velho: 'perdemos tudo'

Cheia do rio Madeira deixa rastros de destruição em comunidades ribeirinhas de Porto Velho: 'perdemos tudo'

Cerca de 11 mil pessoas de 30 comunidades ribeirinhas ao longo do rio foram afetadas. Depois de quase dois meses acima da média esperada para o período, o nível da água recua gradualmente, dia após dia.
Comunidade Boca do Jamari — Foto: Edson Gabriel.

Porto Velho, RO
- Famílias de comunidades ribeirinhas localizadas em Porto Velho iniciaram, na última semana, a reconstrução e reorganização de suas vidas após a cheia do rio Madeira. A lama que invadiu casas, plantações mortas e falta de água potável são alguns dos muitos rastros deixados pelo fenômeno climático.

"A vontade foi de mais de chorar. Quando eu vi o desespero, não foi fácil não, perdemos tudo. Todo o meu sustento sai daqui [plantação], daqui que eu pago as minhas contas. Acredito que para recomeçar tudo de novo, terei que gastar uns seis mil reais".

A fala é de Acrivaldo Olímpio, produtor de milho, melancia e banana. Sua propriedade ficou submersa por quase dois meses pela água do Madeira e, durante esse período, todo o investimento feito pelo agricultor foi perdido.


Acrivaldo Olímpio — Foto: Edson Gabriel

🔎Em abril de 2025, o rio Madeira chegou a 16,77 metros (menos de 30 centímetros da cota de inundação) e afetou a rotina de cerca de 11 mil pessoas que moram em 30 comunidades ribeirinhas ao longo do rio Madeira. Depois de quase dois meses acima da média esperada para o período, o nível recua gradualmente, de acordo com dados do Serviço Geológico Brasileiro (SGB)

A comunidade Boca do Jamari, distante cerca de 60 km da área urbana de Porto Velho, foi uma das mais afetadas. Após a vazão do rio diminuir, produtores rurais ribeirinhos, que vivem exclusivamente da plantação de banana, perderam grande parte da produção, pois as árvores ficaram submersas por muito tempo.


Comunidade Boca do Jamari — Foto: Edson Gabriel
Anivaldo Gomes é um dos produtores que tenta salvar o que restou do seu sustento após a cheia. O agricultor se divide entre o trabalho na capital e a reestruturação da casa. A lama cobriu parte da sua propriedade e atingiu a plantação de banana.

"Pra conseguir sustentar minha família e pagar as contas, estamos tendo que comprar as poucas bananas que restaram de alguns agricultores pra gente poder vender lá na rua [cidade]", relata.

Ao ser questionado sobre o sentimento em ver a plantação de banana toda destruída, ele responde, entre lágrimas:

— Não sei o que falar não, minha mão fala tudo, já.


Anivaldo Gomes — Foto: Edson Gabriel

Mediações

Durante a cheia, a Defesa Civil atendeu diversas pessoas no deslocamento de famílias de áreas de risco e na distribuição de suprimentos nas regiões mais afetadas. Atualmente, os agentes continuam enviando cestas básicas, água potável, kits de higiene pessoal e hipoclorito de sódio para as pessoas que estão retornando às suas casas.

No início deste mês, o governo de Rondônia anunciou que oferecerá um auxílio de R$ 3 mil por família para os impactados pela cheia dos rios em todo o estado. O valor será pago em três parcelas mensais. Além dessa ajuda, o governo informou que continuará com ações emergenciais, como a entrega de insumos e apoio técnico às famílias.

Rio Madeira oscila de maneira extrema nos últimos tempos

Em menos de 6 meses, o rio saiu do menor nível da história, quando chegou a 19 centímetros de profundidade em Porto Velho (RO), em outubro de 2024 — nunca observado desde 1967 — e ultrapassou os 16 metros. A mudança brusca de cenário é resultado do Inverno Amazônico, quando as chuvas se intensificam em toda a região Norte.

🌧️ Mas o que é o Inverno Amazônico? É mais ou menos quando começa o verão no Hemisfério Sul, no final do ano, que as chuvas ganham força na região Norte.

No início deste ano o cenário mudou completamente. As chuvas da estação, causadas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) — faixa de nuvens que se forma na região equatorial do planeta a partir dos ventos alísios, que sopram dos hemisférios Norte e Sul — foram bastante volumosas, o que corroborou para a subida das águas.

Durante a escassez de água em 2024, as famílias ribeirinhas viram os poços amazônicos secarem, assim como o rio. Eles dependiam de carregamentos enviados pela Defesa Civil Municipal e as secretarias de assistência social de Porto Velho e do estado.

Muitas famílias vivam com menos de 50 litros de água por dia para abastecer toda a residência. Onde antes só se navegava de barco, passou-se a se caminhar, pois a imensidão de água se transformou em um deserto de areia.

Os fenômenos observados tem preocupado especialistas, pois as oscilações vêm se tornando cada vez mais intensas e frequentes.

Atualmente, a região se despede do inverno Amazônico, previsto para terminar em maio. Por enquanto, as equipes seguem monitorando as áreas do Alto, Médio e Baixo Madeira, dando suporte para as famílias atingidas.


Fonte: G1-Rondônia
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