Porto Velho, RO - O governador em segundo mandato tem adotado um discurso de união dos partidos de direita com foco nas eleições de 2026, quando poderá ser candidato à Presidência da República.
m meio a um cenário eleitoral
fragmentado, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), enfrenta
dilemas em sua base e emite sinais trocados para aliados na disputa pela
Prefeitura de Belo Horizonte.
O governador em segundo mandato
tem adotado um discurso de união dos partidos de direita com foco nas
eleições de 2026, quando poderá ser candidato à Presidência da
República. Em fevereiro, fez acenos a Jair Bolsonaro (PL) e participou
de um ato de apoio ao ex-presidente em São Paulo.
Na contramão do
discurso, contudo, Zema não consegue unificar a sua própria base na
capital mineira e vê aliados se dividirem entre quatro pré-candidatos:
Luisa Barreto (Novo), Carlos Viana (Podemos), Bruno Engler (PL) e Mauro
Tramonte (Republicanos).
A eleição em Belo Horizonte caminha
para ser uma das mais imprevisíveis entre as capitais, com divisões na
direita, esquerda e centro. Ao menos dez pré-candidatos se lançaram para
a sucessão do prefeito Fuad Norman (PSD), que disputa a reeleição em
cenário adverso.
Dois nomes apostam na reprodução da polarização
nacional. De um lado, Bruno Engler terá o apoio de Bolsonaro, enquanto o
deputado federal Rogério Correia (PT) entra na disputa ancorado no
presidente Lula. Os demais apostam na dinâmica da disputa local para
avançarem para o segundo turno.
Com um leque aberto de opções na
capital mineira, Zema segue equidistante das negociações. Aliados
afirmam que ele mantém o seu estilo discreto, sem pressões ou
interferências nas candidaturas. Na visão dos adversários, contudo, a
postura mostra falta de traquejo político do governador.
"É um
padrão. Ele costuma lançar candidatos com poucas chances para apostar
num discurso antipetista no segundo turno. Não apoia direto o
bolsonarismo porque parte do seu eleitorado rejeita Bolsonaro", dispara
Rogério Correia, que diz ver o governador como coadjuvante na capital
mineira.
Nos últimos meses, Zema deu declarações conflitantes em
relação à disputa municipal. Em abril, afirmou a jornalistas que não
iria subir "em palanque nenhum" e que queria distância da disputa em
Belo Horizonte.
Dias depois, participou do ato que lançou
pré-candidatura da secretária estadual de Planejamento, Luisa Barreto
(Novo). Na ocasião, chamou a aliada de "peça fundamental" de seu governo
e prometeu atuar em sua campanha.
Sem experiência em cargos
eletivos, Luisa Barreto ainda patina nas pesquisas e não empolga os
demais partidos aliados ao governador. Em 2020, ela foi candidata à
prefeita pelo PSDB e ficou em sétimo lugar.
Ainda assim, a cúpula do Novo diz que a candidatura será mantida, mesmo que isso signifique uma divisão da base de Zema.
"Luisa
terá apoio ostensivo do governador. Ela é a mais preparada entre os
candidatos, está em linha conosco e conhece bem Belo Horizonte", afirmou
à Folha de S.Paulo o vice-governador Mateus Simões.
A
candidatura própria vai na contramão dos interesses de Bolsonaro, que
apoia Bruno Engler. O deputado estadual tem uma relação conflituosa com
Zema e liderou embates com o governador na Assembleia Legislativa.
Engler
chegou a ser vice-líder do governo, mas deixou o posto após votar
contra um projeto do governo que reajustou a alíquota do ICMS de
produtos supérfluos. Agora, busca pontes com o governador.
Aliados
de Zema dizem que um acordo com Engler representaria um aceno a
Bolsonaro de olho em 2026, quando o governador mineiro pode concorrer à
Presidência. Por outro lado, a aliança ainda no primeiro turno poderia
colocar em xeque sua própria liderança em Minas Gerais.
Uma
alternativa seria apoiar a candidatura do senador Carlos Viana
(Podemos), nome considerado menos radical se comparado a Engler.
Mas
Viana tem uma relação de idas e vindas com Zema e chegou a romper com o
governador em 2022 para concorrer ao governo pelo PL. Sem apoio de
Bolsonaro, amargou um terceiro lugar e voltou a se aproximar do
governador.
Neste mês, Zema participou de um ato político do
Podemos, mas chegou acompanhado de Luisa Barreto. Em discurso, foi
burocrático ao falar de Viana e rasgou elogios à aliada, destacando seu
papel no acordo firmado pelo governo de Minas e a mineradora Vale em
razão da tragédia em Brumadinho.
Os afagos à adversária não
esmoreceram Viana, que se diz confiante na aliança com o governador:
"Conversamos sobre a possibilidade de unificarmos, com apoio ao meu nome
para a prefeitura e nosso apoio ao nome que ele indicar para sua
sucessão ao governo em 2026", afirma.
Ao mesmo tempo, o senador
estreita relações com o grupo político liderado por Marcelo Aro (PP),
poderoso secretário da Casa Civil da gestão Zema e um dos líderes
políticos mais influentes de Belo Horizonte.
Ele tem cinco
partidos em sua órbita influência, incluindo o Podemos de Viana, PP,
PRTB, PMN e DC, e o apoio de um batalhão de líderes comunitários,
políticos e religiosos na capital mineira. Também tem um aliado como
suplente de Viana no Senado, o advogado Castellar Neto.
Questionado
sobre a sucessão em Belo Horizonte, Aro afirma que não definiu quem vai
apoiar e defendeu uma união da direita. "Se não for possível unificar,
vou lutar arduamente para que essa unidade aconteça no segundo turno".
Correndo
por fora, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) desponta
sem padrinhos políticos e amparado pela popularidade que conquistou como
apresentador da TV Record. Na Assembleia, tem um histórico de
fidelidade ao governador e uma relação sem arestas com os colegas.
O
PSD também faz parte da base aliada do governador, mas um apoio de Zema
ao prefeito Fuad Norman é considerado improvável. Alçado ao cargo em
2022 com a renúncia de Alexandre Kalil, adversário de Zema naquela
eleição, o prefeito apoiou o presidente Lula (PT).
Outros quatro
aliados do presidente são pré-candidatos na capital mineira, todos do
campo da esquerda: os deputados federais Rogério Correia (PT) e Duda
Salabert (PDT), a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) e o
economista Paulo Brant, vice-governador na primeira gestão Zema. As
conversas por uma aliança, até o momento, não prosperaram.
Dentre
os partidos de centro, também disputará a prefeitura: o vereador
Gabriel Azevedo (MDB), atual presidente da Câmara Municipal de Belo
Horizonte.
Fonte: Folhapress