Comunidade científica destaca a alta capacidade do vírus H5N1 infectar animais e humanos com a combinação a outros vírus.
Por Viviane Taguchi.
Porto Velho, RO - Médicos virologistas e cientistas de mais de 40 países, que integram o Global Virus Network (GNV), grupo que reúne especialistas em todo o mundo para avaliar as epidemias, estão alertando as autoridades sobre o risco de uma nova pandemia, desta vez, provocada pelo H5N1, vírus causador da gripe aviária, e suas mutações. De acordo com a comunidade científica, é preciso adotar medidas urgentes para evitar uma contaminação mundial, como ocorreu em 2020 com a Covid-19.
Segundo alerta, a dinâmica viral do H5N1 deve ser rigidamente acompanhada, pois o que pode tornar o H5N1 mortal para humanos é a alta capacidade dele sofrer mutações e rearranjos virais, além da combinação com outros vírus virus aumentar a sua transmissibiidade.
O médico veterinário Ab Osterhaus, diretor do GNV e fundador do Centro de Medicina Infecciosa e Pesquisa em Zoonoses da Universidade de Medicina Veterinária de Hannover, Alemanha, diz que a necessidade urgente de compreender e interromper a transmissão do vírus em rebanhos de gado e a vacinação é ‘imprescindível’. “Fortalecer a vigilância nas interfaces animal-humano é crucial, visto que os esforços atuais de monitoramento são insuficientes para orientar estratégias eficazes de prevenção.”, afirma Osterhaus.
A especialista Elyse Stachler, pesquisadora do Broad Institute do MIT e Harvard, EUA, e membro do GVN, diz que ainda há pouco conhecimento e monitoramento no potencial de transmissão de animais infectados e os seres humanos. “Um sistema de monitoramento robusto é essencial para detectar e colocar em quarentena rapidamente os animais afetados, além de implementar medidas preventivas para conter a disseminação e a infecção humana”, afirmou. “Além disso, acreditamos ser crucial manter a confiança e a adesão das partes interessadas aos programas de monitoramento, especialmente dos trabalhadores rurais.”
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a gripe aviária já foi reportada em 108 países, em todos os continentes. Somente nos Estados Unidos, entre 2024 e 2025, o surto de gripe aviária já afetou cerca de mil fazendas de gado leiteiro, granjas já abateram cerca de 170 milhões de aves e pelo menos 70 pessoas foram contaminadas – uma morte foi confirmada em decorrência da doença nos Estados Unidos. Pessoas também morreram no México e na China. Em alguns países da Europa, como a Finlândia e a Polônia, tornaram a vacinação contra a doença obrigatória.
O Brasil registrou 166 casos, 158 em aves silvestres migratórias, dois em aves de subsistência e seis em mamíferos aquáticos. O primeiro caso registrado no país, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), ocorreu em 15 de maio de 2023. Sem registros em criações comerciais, a demanda por carne de frango e ovos do Brasil vem aumentando.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), desde o inícios dos surtos de gripe aviária, na Ásia e na Europa, o Brasil adotou protocolos mais rígidos nas granjas e criatórios. Todas as visitas aos criatórios comerciais foram suspensas e o Mapa decretou estado de emergência em todos os Estados. “É uma doença altamente contagiosa e que quer todos os protocolos sanitários mais rígidos que existem. Não há chance do setor avícola brasileiro afrouxar essas regras”, disse Ricardo Santin, em entrevista ao AgroBand em janeiro deste ano. “Mesmo com o surto de gripe aviária em vários países do mundo, o Brasil se mantém com o status livre da doença”.
Vacinação contra gripe aviária é urgente
A comunidade científica em todo o mundo está atuando na elaboração de vacinas contra a gripe aviária de alta patogenicidade. No Brasil, o Instituto Butantan aguarda a fase de testes. De acordo com a instituição, 700 voluntários dos estados de Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo participarão dos testes.
O médico infectologista, pesquisador e diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, foi o entrevistado do Canal Livre do último domingo (4). Ele reforça que os cientistas de todo o mundo temem uma pandemia de gripe aviária. “Nove em cada 10 cientistas no mundo e pessoas que estudam o assunto vão falar que a primeira é a gripe aviária que já vem acontecendo nos Estados Unidos, com casos de transmissão para humanos a partir principalmente de fazendas de gado. Já aconteceram algumas dezenas de casos e já aconteceu uma morte de um jovem de 13 anos de idade. E o mundo inteiro está se preparando. Muitos países estão começando a fazer os estudos e almejando fazer estoques estratégicos”, disse o médico.
Kallás afirmou que o Butantan já tem um trabalho para começar a ser feito no desenvolvimento de uma vacina. “E o Instituto Butantan começou a fazer um protótipo de vacina de gripe aviária. A gente começou esse projeto no começo de 2023 e agora a gente aguarda Anvisa aprovar já a realização do estudo fase um ½, e se tudo correr bem, a partir do mês que vem a gente começa a testar”, disse.