“Tá caro, não compra”: oposição se mobiliza contra solução de Lula para alta de alimentos

“Tá caro, não compra”: oposição se mobiliza contra solução de Lula para alta de alimentos


Em vídeo, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou a sugestão de Lula para lidar com a inflação dos alimentos. (Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados).

Porto Velho, RO - Parlamentares da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificaram as críticas ao governo em evidências à "solução" apresentadas pelo presidente para a alta nos preços dos alimentos. As redes sociais foram tomadas pelas reações às declarações de Lula, ampliando o desgaste do governo com a economia e as medidas que ele próprio propõe.

Em entrevista concedida às rádios da Bahia na quinta-feira (6), além de responsabilizar fatores externos e a "arapuca do Banco Central" por problemas de economia, Lula ainda disse que cabe ao povo o controle dos preços da comida.

“Uma das coisas mais importantes para que as pessoas possam controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado aí em Salvador e você desconfia que tal produto tá caro, você não compra. Agora, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que ele acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar (o preço) pra vender, porque se não vai estragar”, disse o mandatário.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos primeiros a ironizar a fala do petista, ainda na noite de quinta-feira (6). Em vídeo postado nas redes sociais, Nikolas reproduz um trecho do discurso do presidente e, em seguida, complementa:

“Se a água tá cara, é só não tomar banho. Se você está com fome, é só não comer. Se a conta de luz estiver cara, é só não ligar. Se a gasolina tá cara, é só não andar de carro. Se a passagem tá cara, é só ficar em casa. Se o presidente tá ruim, é só tirar”, finalizou o parlamentar, retomando a ideia do impeachment do presidente – que voltou a mobilizar a oposição por conta de possíveis “pedaladas” no programa Pé-de-meia.

Logo cedo, na manhã desta sexta, Nikolas agitou ironizando as falas do petista: “Bom dia! E se não estivermos tendo um bom dia, é só não acordar”. Na sequência, afirmou em outra postagem que membros do PT defendem a criação de um “núcleo político” que faça reuniões frequentes e ofereçam alternativas para o presidente Lula. “É oficial: nem o PT aguenta mais o Lula”, afirmou.

O deputado ainda fez referência ao remédio de emagrecimento da moda para ironizar o governo: “Ozempic pra que? É só virar petista”. E também aproveitou a deixa para contribuições mais uma vez o impeachment do presidente: ao replicar manchete que afirma que as viagens de Lula bateram valor recorde nos últimos dez anos, comentou: “Governo tá caro, vamos trocar”.

Em suas declarações às rádios baianas, Lula também culpou o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alvo constante de suas críticas, pela alta do dólar no fim de 2024, pela elevação nos juros e subsequentemente alta no valor dos alimentos, encorajando de “arapuca do Banco Central”.

O presidente omitiu que a alta nos juros visa conter a própria inflação, e que esta também tem relação com a política fiscal do governo.

A fala de Lula chega em mais um momento delicado para a gestão petista, que, além das críticas pela alta na inflação da comida, também enfrenta acusações de ter contratado ONGs para fornecimento de marmitas que nunca foram entregues à população de rua em São Paulo.

O deputado Nikolas Ferreira comentou o caso em seu perfil no X, dizendo que ONGs controladas por ex-assessores de parlamentares petistas receberam R$ 5,6 milhões para realizar o serviço. Conforme reportagem do jornal O Globo, as ONGs receberam os recursos mesmo sem executar o serviço, com relatórios que apresentam acusações de fraude.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) contra o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, na razão das denúncias. O partido Novo também levou o caso à Corte de Contas.

A oposição ao governo Lula repercutiu críticas sobre a inflação dos alimentos.

Outros parlamentares também se manifestaram. O líder da oposição no Senado, senador Rogério Marinho (PL-RN), publicou no X um trecho de uma entrevista sua e comentou que Lula debocha do povo.

“A culpa do aumento dos preços nos supermercados não é de quem compra, mas de um governo que resultou na economia com impostos e inflação! Agora, com uma nova gestão do Banco Central, o PT segue culpando terceiros para esconder a sua incompetência e irresponsabilidade!”, afirmou.

O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) reproduziu print do vídeo de Nikolas e afirmou: “lá vai o Nikolas dando mais uma porrada no Lula”. Em meados de janeiro, um vídeo do deputado mineiro criticando a resolução do governo sobre o monitoramento do cartão de crédito e do Pix gerou mais de 300 milhões de visualizações e fez o Planalto recuar, revogando a medida.

Por sua vez, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) também criticou a gestão de Lula. “Se o arroz está caro, é só não comer. Se o gás está caro, é só não cozinhar. Se a gasolina está cara, é só ficar em casa. Nada de cortar gastos nos ministérios, colocar pessoas competentes nas estatais ou gerenciar melhor a economia. Para o governo, basta que os brasileiros parem de comer, beber e se deslocar que os preços caiam”, afirmou.

Carol de Toni (PL-SC), líder da minoria da Câmara e presidente da Comissão de Constituição e Justiça, de forma irônica, chamou Lula de “gênio” e disse que agora ele resolveu “jogar a culpa da inflação no próprio povo”. “Mais um tapa na cara do povo. Agora fico no aguardo da turma do ‘entenda como isso é bom’ para explicar essa nova genialidade”, comentou um parlamentar.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, apenas republicou corte do vídeo com as declarações de Lula, quando o presidente menciona que a população deixa de comprar os produtos que são caros.

Presidente da Câmara vincula controle de inflação a medidas estruturais

Na manhã desta sexta-feira, questionado sobre as falas de Lula, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu que o governo deve buscar medidas estruturais para conter a alta nos preços dos alimentos, mas evitou criticar o mandatário.

O parlamentar vinculou a inflação dos alimentos a questões externas e, internamente, afirmou que “um cenário de mais estabilidade” passa por discussões sobre “um corte nas despesas, de um corte de gastos, para que, de certa forma, não tenhamos esses indicadores saindo do controle”. Motta ainda afirmou não acreditar que “decisões simples, simples” podem resolver a questão.

O mercado avalia que a inflação dos alimentos irá aquecer por algum tempo. A alta no valor da carne é um exemplo. Conforme mostrado na Gazeta do Povo, nem mesmo o recorde histórico de 10,2 milhões de toneladas será suficiente para reduzir os preços tão cedo.

Como o próprio Comitê de Política Monetária (Copom) organizou em suas reuniões, a mudança no ciclo pecuário, associada aos efeitos da estimativa, levou à volatilidade do cenário de inflação de alimentos de curto prazo. A alta de preços – não só de alimentos – e a piora das expectativas de inflação levaram o Banco Central a promover quatro altas de juros desde setembro, e novos aumentos são esperados para as próximas reuniões do Copom.

Os preços do café, outro item comum da mesa do brasileiro, também dispararam e seguem com perspectiva de alta. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), nos últimos quatro anos, o aumento no valor do produto no varejo foi de 110%, sendo 37,4% somente em 2024.

Fatores climáticos adversos afetaram as plantações de diferentes países desde 2021, reduzindo a produção e pressionando os preços em um momento de crescente demanda global. Ao mesmo tempo, a alta do dólar impulsiona a exportação, diminui a oferta no mercado interno. A Abic prevê que, nos próximos dois meses, o produto deverá ter uma alta de 25%.

A comunicação do governo também foi criticada

Além das próprias falas do presidente Lula, os representantes da oposição ainda criticaram a postura do governo de apostar na comunicação para resolver problemas cujas causas são estruturais e amplas, como é a inflação dos alimentos.

Em janeiro, Lula trocou o comando da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, a Secom, substituindo o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) pelo marqueteiro de sua campanha presidencial em 2022, Sidônio Palmeira.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) ironizou a dependência de Lula a seu novo ministro e marqueteiro em uma série de publicações. “A inflação disparando, o povo sofrer... e Lula correndo: CHAMA O MARQUETEIROOOO!”, postou no X.

Em outra mensagem, o parlamentar criticou a promessa de campanha de Lula, de que o brasileiro iria comer picanha se fosse eleito: “Picanha virou lenda, café tá um luxo... Lula, desesperado: CHAMA O MARQUETEIROOO!”. Para ele, este é o “governo do cinismo, deixando o povo cada vez mais pobre enquanto sua família vive no luxo bancado pelo

Brasil”

Janeiro, Lula se reuniu com ministros para discutir soluções a fim de conter a alta nos preços da comida, que pesa principalmente no bolso do consumidor de baixa renda. Não por acaso, a economia é apontada como um dos principais fatores responsáveis ​​pela queda na popularidade do presidente

. dizendo que não há intervenção e nem alteração nos prazos de validade.

Rui Costa também foi amplamente criticado quando, de forma semelhante a Lula, afirmou que, se a laranja estava cara, que a população comprava outra fruta.

O deputado Pedro Lupion (PP-PR), que comandava a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), divulgou uma nota no dia 25 de janeiro, na qual criticou as medidas tomadas pelo governo para reduzir a alta dos alimentos, incluindo a redução nos impostos de importação.

“A medida é mais um exemplo de decisões apressadas e mal planejadas, enquanto o governo ignora questões fundamentais como problemas macroeconômicos, controle inflacionário, câmbio desajustado e gastos públicos elevados”, disse Pedro Lupion na carta em nome da FPA.

FPA diz que tributação de fundos do agronegócio eleva inflação

Mais recentemente, no dia 3 de fevereiro, em nome da FPA, o parlamentar postou um vídeo em seu perfil no X, no qual critica a tributação do governo sobre os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e os Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs).

Ao sancionar a regulamentação da reforma tributária, em 16 de janeiro, Lula vetou o dispositivo que isentava ambos os fundos de tributação. Segundo Lupion, “se o governo realmente estava se importando com a inflação dos alimentos, não teria taxado FIIs e Fiagros, que permite o acesso ao crédito sem depender de dinheiro público”.

No vídeo, a FPA questiona a real preocupação do governo com a alta dos alimentos e o porquê do veto a uma das “principais formas de financiamento para quem produz”, além de afirmar que as dificuldades geradas para o acesso dos produtores ao crédito fazem com que os custos aumentam, e o preço da comida suba ainda mais.

“Eles não querem que você saiba, mas enquanto o governo tenta encontrar problemas para criar soluções mirabolantes, ele mesmo vetou um dos principais mecanismos que ajudariam a reduzir os custos da produção agrícola. E, no final, adivinha quem paga a conta? Você!”, mostra o vídeo.

A postagem ainda traz a explicação de que os FIIs e os Fiagros são formas que o agronegócio encontrou para se financiar sem depender do orçamento público e que o governo pode inviabilizar essa alternativa com mais impostos. “Temos trabalho para derrubar esse veto e impedir mais um ataque ao setor que sustenta o Brasil”, defendeu Lupion.

Fonte: Por Roberta Ribeiro


Postagem Anterior Próxima Postagem