Deputado federal cassado em maio passado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por causa de alegada violação à Lei da Ficha Limpa
Porto Velho, RO.
Nas redes sociais, o ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato no Paraná
comemora menções em pesquisas e diz que a "República de Curitiba"
-apelido difundido na época da operação- merece ser dirigida por pessoas
íntegras
Cassado pela Justiça Eleitoral em 2023, o ex-procurador
Deltan Dallagnol se coloca como pré-candidato a prefeito de Curitiba
pelo partido Novo nas eleições deste ano, mesmo sabendo que terá uma
árdua disputa jurídica para manter a eventual candidatura.
Nas
redes sociais, o ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato no Paraná
comemora menções em pesquisas e diz que a "República de Curitiba"
-apelido difundido na época da operação- merece ser dirigida por pessoas
íntegras.
Ele teve o mandato de deputado federal cassado em maio
passado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por causa de alegada
violação à Lei da Ficha Limpa. Os magistrados consideraram, por
unanimidade, que houve fraude à legislação por ter se exonerado do
Ministério Público antes do início de processos administrativos contra
ele envolvendo a Lava Jato.
Deltan disse à Folha em março que
não considera que esteja inelegível para as eleições seguintes a partir
daquela decisão. Ele afirmou que, caso realmente se candidate, "alguém
pode impugnar o registro, e isso vai ser discutido".
"Hoje, se eu
me candidatar, os fatos e provas vão ser discutidos na primeira
instância em Curitiba e no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, lugar
em que se considerou que eu estou plenamente elegível. E um eventual
recurso ao TSE não é passível de conduzir a um reexame de fatos e
provas", disse ele à Folha na ocasião.
O ex-procurador afirmou
ainda que o que foi debatido no processo que resultou em sua cassação no
TSE era apenas "o registro de candidatura" de 2022. "A inelegibilidade
foi um fundamento para decidir em cima de uma discussão de fatos e
provas que nós nem fizemos ao longo do processo. Segundo o artigo 503 do
Código de Processo Civil, quando não existe uma discussão exaustiva,
isso não faz trânsito em julgado [esgotamento de recursos]."
O entendimento do político é criticado por especialistas em direito eleitoral ouvidos pela Folha.
Thales
Tácito Cerqueira, autor de obras jurídicas sobre direito eleitoral, diz
que nenhum juiz do Paraná poderia "ir contra uma gravação do sistema de
inelegibilidade da Justiça Eleitoral".
Também afirma que, em um
caso de cassação como a sofrida pelo deputado, o afastamento das urnas
ocorre por um período de oito anos. "Como a inelegibilidade é
preexistente, não há como alegar que o juízo de primeiro grau eleitoral e
o TRE 'rediscutirão' esse tema e que não cabe ao TSE reexaminar matéria
fática."
O especialista, que faz a ressalva de que considera a
cassação do ex-procurador no TSE "o maior erro judicial eleitoral" que
testemunhou, diz também que eventual tentativa de lançar a candidatura e
desistir para abrir caminho a um sucessor poderia resultar em um
processo de fraude.
A professora de direito da Universidade
Federal do Ceará Raquel Machado considera que Deltan dá uma
interpretação para a decisão da Justiça Eleitoral que extrapola o que
foi dito.
Machado também entende que nenhum magistrado poderia ignorar um julgamento do TSE "que existe e está fundamentado".
"Na
decisão [do TSE em 2023], há vários trechos, seja na ementa ou seja o
voto do ministro relator, em que é feita referência expressa à
inelegibilidade dele. É reconhecida, considerando que ele teria
realizado uma fraude [à Lei da Ficha Limpa]."
O caminho possível
para salvar eventual candidatura, diz a professora, seria ele conseguir
provar, com alguma nova documentação, que a sua exoneração não foi uma
burla à Lei da Ficha Limpa, como considerado pelos ministros do TSE
–cenário que parece muito distante.
Em março, um juiz eleitoral
de Curitiba, Irineu Stein Junior, negou pedido da federação encabeçada
pelo PT para retirar o nome de Deltan de uma pesquisa eleitoral
realizada na capital paranaense sobre a disputa municipal.
O
magistrado entendeu que não caberia à Justiça Eleitoral antecipar agora
juízo de mérito quanto a requisitos para registro de candidatura. Também
acrescentou que não viu no cadastro eleitoral do ex-procurador anotação
de alguma ocorrência a ser examinada em registro de candidatura -o que
dá esperanças a Deltan e seus apoiadores.
À Folha de S.Paulo, em
março, o ex-procurador disse que o cenário é favorável à consolidação de
sua candidatura em Curitiba e que ainda estava refletindo sobre a
possibilidade. Também ensaiou um discurso de candidato: "[Há] um amplo
apoio da sociedade a alguém que busque trabalhar com honestidade, com
competência em cima de políticas públicas sobre evidências, como a gente
fez na Lava Jato".
Ele afirmou na ocasião que estava em dúvida
se pode "agregar mais" como candidato a prefeito ou viajando pelo país
fazendo campanha e apoiando aliados de seu grupo político no Novo.
Deputado
federal mais votado do estado em 2022, ele detém um cargo remunerado no
partido, de "embaixador nacional" da agremiação, e tem feito acenos ao
bolsonarismo, inclusive tendo comparecido a ato do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) na avenida Paulista em fevereiro.
Além de Deltan,
como a Folha mostrou em dezembro, a mulher dele, Fernanda Dallagnol, se
filiou ao Novo, deu declarações em eventos políticos e foi especulada
como possível candidata na capital paranaense. Ela também passou a
integrar o movimento de renovação política RenovaBR, que promove
capacitação de candidatos.
Fonte: Folhapress
Deltan diz que não está inelegível e articula se lançar a prefeito de Curitiba
Tags:
Política