Novo PAC: SE e RO lideram investimento por habitante; SP é o último

Novo PAC: SE e RO lideram investimento por habitante; SP é o último

Repasses a estados do Sul e Sudeste superam valores do Nordeste. Índice chama a atenção após polêmica com o governador Romeu Zema, de MG.

Porto Velho, RO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que visa investir quase R$ 1,7 trilhão em todos os estados brasileiros. Em números absolutos, o Sudeste lidera a previsão de repasses; porém, em termos proporcionais, um estado do Nordeste e quatro do Norte concentram os cinco maiores índices de investimento por habitante: Sergipe, Roraima, Amapá, Tocantins e Acre.

O Metrópoles comparou os valores investidos e a quantidade de habitantes por estado, com base no plano de investimentos apresentado pelo governo federal. O repasse a Sergipe corresponde a R$ 61,7 mil per capita, enquanto São Paulo, o estado com a maior população, aparece como o último da lista: são R$ 3,9 mil investidos por habitante.

Em números absolutos, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais – os três estados mais populosos do país – concentram a maior parte dos investimentos. Somando o Espírito Santo, o Sudeste abocanhou quase 34% do total de repasses do programa do governo federal.

Recorte regional

As cifras injetadas nos sete estados do Sul e do Sudeste superam, em quase R$ 300 bilhões, o valor dos investimentos nos nove estados do Nordeste.
 A proporção chama a atenção após fala polêmica do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sobre a necessidade de união do eixo Sul-Sudeste, ante a integração das unidades federativas que compõem o Consórcio do Nordeste.

Em entrevista, Zema defendeu a união do consórcio formado pelos estados do Sul e do Sudeste para barrar, no Congresso Nacional, iniciativas que possam causar perdas econômicas para as duas regiões – em especial, a reforma tributária. A estratégia é uma resposta às propostas enviadas pelos estados na outra ponta do mapa.

“Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população, unem-se e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro, nessa reforma tributária, que já começamos a mostrar nosso peso”, declarou o governador de Minas durante entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

As aplicações de recursos do novo PAC, no entanto, contrariam essa visão, em distribuição por região:

Confira a soma dos investimentos por região:

Sudeste: R$ 760 bilhões
Nordeste: R$ 700,4 bilhões
Norte: R$ 293,7 bilhões
Centro-Oeste: R$ 251,6 bilhões
Sul: R$ 231,1 bilhões
Segundo Fábio Andrade, economista e professor de políticas públicas da ESPM, “o desbalanço, do ponto de vista de concentração de atividade econômica [entre os eixos Norte/Nordeste – Sul/Sudeste] é um problema, uma vez que o governo cria uma região que tem menos oportunidades que outras”.

Além disso, há uma diferença significativa no acesso a infraestrutura básica, como água potável e saneamento. “Dados recentes mostram que a taxa de acesso a esgoto na região Nordeste é metade da taxa de acesso a esgoto no Sudeste, e ambas não são altas. Com esses recursos, o governo não consegue equilibrar esse jogo”, pondera.

Rio de Janeiro, por exemplo, receberá o maior índice de financiamento (R$ 342,6 bilhões), equivalente a quase o dobro do segundo maior investimento, em São Paulo (R$ 179,6 bilhões). O montante destinado ao estado fluminense se justifica pelo número de obras inacabadas, sobretudo aquelas relacionadas à educação e às áreas de encosta.

“Este é um ponto a ser observado: a quantidade de obras que ficaram para trás, não no município do Rio, mas no entorno. O RJ ainda tem a herança de, no passado, ter sido a capital federal e ter muita estrutura pública que demanda obras de revitalização”, frisa o economista.

Nova versão do PAC

Os recursos para o novo PAC têm origem no Orçamento Geral da União (OGU), com R$ 371 bilhões; em empresas estatais, R$ 343 bilhões; em financiamentos, R$ 362 bilhões; e no setor privado, R$ 612 bilhões. Por ano, o PAC deve desembolsar R$ 60 bilhões com os estados.

Desde os primeiros debates para o desenvolvimento do projeto, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, recebeu governadores, prefeitos e parlamentares para debater os empreendimentos que mereciam mais atenção, em cada estado. O montante total foi dividido entre as unidades federativas, com base nas prioridades alinhadas entre a União e as gestões estaduais e municipais.

Cada estado receberá um valor, com base em nove eixos temáticos: inclusão digital e conectividade; saúde; educação; infraestrutura social e inclusiva; cidades sustentáveis e resilientes; água para todos; transporte eficiente e sustentável; transição e segurança energética; e defesa (saiba mais sobre cada um abaixo).

Belém em foco

Sede da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), em novembro de 2025, o estado do Pará, que abriga a floresta amazônica, recebeu destaque nas obras do novo PAC. O orçamento destinado a obras no território paraense equivale a quase duas vezes a média dos recursos destinados para outros estados da região Norte no programa.

Serão R$ 75,2 bilhões injetados em projetos no estado. Entre eles, a construção da ponte sobre o Rio Xingu BR-230, a duplicação da BR 316 (Castanhal-Trevo de Salinas), a pavimentação da BR 308 (Viseu-Bragança), a derrocagem do Pedral do Lourenço e a edificação de moradias do Minha Casa, Minha Vida.

A maior parte das obras no estado é focada em transporte eficiente e sustentável. Esse segmento reúne os investimentos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias, a fim de reduzir os custos da produção nacional para o mercado interno. Para essa finalidade, o governo separou R$ 21,3 bilhões em recursos de obras e projetos.

Detentor do segundo maior montante, o setor de educação, ciência e tecnologia tem investimento de R$ 21 bilhões. Obras de infraestrutura social e inclusiva têm orçamento de R$ 400 milhões.

Veja a finalidade e o valor destinado a cada segmento:

Inclusão digital e conectividade — O investimento total deste tema nos estados pode chegar a R$ 28 bilhões. O objetivo é levar internet de alta velocidade a todas as escolas públicas e unidades de saúde.
Saúde — Com o montante de R$ 31 bilhões, o governo quer construir unidades de saúde, fortalecer a oferta de vacinas e investir em telessaúde.

Educação — Com investimento previsto de R$ 45 bilhões, os estados deverão impulsionar a permanência dos estudantes nas escolas, bem como priorizar a alfabetização na idade certa e a produção científica.
Infraestrutura social e inclusiva — Nesta modalidade, serão investidos R$ 2 bilhões em espaços de cultura, esporte e lazer.
Cidades sustentáveis e resilientes — Para a construção de moradias do Minha Casa Minha Vida e o financiamento e a compra de residências, o montante de R$ 610 bilhões possibilitará a modernização da mobilidade urbana, a urbanização de favelas, o esgotamento sanitário, a gestão de resíduos sólidos e a contenção de encostas e o combate a enchentes.

Água para todos — Os estados terão R$ 30 bilhões a fim de garantir água de qualidade e em quantidade para a população, bem como investir na revitalização das bacias hidrográficas em ações integradas de preservação, conservação e recuperação.
Transporte eficiente e sustentável — Nesta modalidade, serão R$ 349 bilhões para investimentos em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias.
Transição e segurança energética — Serão R$ 540 bilhões para investir em programas como o Luz para Todos, que tem como objetivo a universalização de comunidades isoladas do Brasil, incluindo a Amazônia Legal. O montante também será dedicado ao pré-sal.

Defesa — Na indústria de defesa, serão injetados R$ 53 bilhões para a adoção de tecnologias de ponta e o aumento da capacidade de defesa nacional.


Fonte: Metropoles

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