Sedam faz levantamento sobre pirarucus na Resex Pacaás Novos utilizando método do Instituto Mamirauá no Amazonas

Sedam faz levantamento sobre pirarucus na Resex Pacaás Novos utilizando método do Instituto Mamirauá no Amazonas

 

O Governo de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e da Coordenadoria de Unidades de Conservação (CUC) iniciou o levantamento da quantidade de pirarucus em baías e poços da Reserva Extrativista (Resex) Rio Pacaás Novos, localizada no município de Guajará-Mirim.

De acordo com o coordenador da CUC, Fabio França, “esse levantamento foi solicitado por moradores da comunidade Santa Margarida que notaram depois da enchente de 2014 o aparecimento dessa espécie de peixe no rio Pacaás Novos. E por isso se tornou uma das prioridades do secretário Marcílio Lopes”, relatou o coordenador que enviou uma equipe até a Resex.



Moradores e pescadores da região participam do estudo

Segundo o pescador e morador da Resex Pacaás Novos, Reinaldo Torres, “antes da enchente não tinha esse peixe aqui. Nós demoramos a descobrir o que era. A gente via aquele bicho diferente, uns achavam que era cobra. Mas o que a gente percebeu mesmo foi a diminuição na quantidade de peixes. Antes tinha bastante peixe. O que a gente mais consome, que são o tucunaré e carabiquara, hoje quase não acha perto, isso sem contar outras espécies. O pirarucu come tudo. Fica difícil para nós que dependemos do peixe, a base da nossa alimentação”, disse.

METODOLOGIA

O levantamento é feito por técnicos da Coordenadoria de Unidades de Conservação (CUC) da Sedam. Há dez dias uma equipe formada por biólogos, moradores da região e pescadores da Colônia de Pescadores Z2 de Guajará-Mirim, monitora a região.

Os pescadores que já mantêm um plano de manejo do pirarucu em lagos do rio Mamoré, já têm experiência com a metodologia de contagem dessa espécie de peixe. De acordo com o biólogo da Sedam, Diego Rudieli, que integra o estudo “o peixe pirarucu é considerado uma espécie invasora no rio Pacaás Novos e segundo a comunidade vem causando sérios transtornos com a diminuição da quantidade de pescado e para entender melhor o que está acontecendo, a Resex conta com a participação dos moradores e pescadores da colônia Z2 . Eles já têm um trabalho de manejo do pirarucu no Lago Cortes de Mercês há sete anos”, explica o biólogo.



Pontos monitorados são identificados com ferramentas de georreferenciamento

Ainda segundo Diego, no estudo realizado na Resex Pacaás está sendo usada a metodologia desenvolvida por Castelo que também é empregada no Instituto Mamirauá no Amazonas, que é referência no manejo do pirarucu na Amazônia.

Ao chegar nos pontos de amostragem os técnicos se dividem em equipes, sendo que cada barco fica a uma distância de 100 metros um do outro para fazer a observação, para evitar que o mesmo peixe seja contado duas vezes.

Segundo o pescador, Teodoro Medeiros, cada período de 20 minutos é considerado uma bateria e serve para todos os pontos de observação simultaneamente. “Quando o peixe boia são contados 20 minutos até que ele volte a aparecer, dificilmente o pirarucu boia no mesmo lugar e quando o peixe vem à flor da água para respirar faz um barulho característico porque o pirarucu afunda na vertical diferente do boto que respira e nada na horizontal. Essa é uma curiosidade interessante sobre o pirarucu e a gente tem que conhecer o peixe para saber lidar com ele”.

SUPER FÔLEGO

Segundo o pescador Leivinha Conceição Rocha Neto, que também participa do estudo, “é mais comum encontrar o pirarucu às margens do rio, onde costuma se alimentar de pequenos peixes. “Ele encurrala as presas no barranco e suga o alimento. Por isso que quando abrimos o pirarucu encontramos muita lama. Mas também quando o pirarucu se sente ameaçado ele procura as partes mais fundas onde fica submerso”.



Pirarucu é o maior peixe de escama do mundo encontrado em água doce e é considerado invasor na Resex

Segundo o biólogo Thales Quintao, “isso ocorre porque o pirarucu tem o que eles chamam de respiração dupla devido aos dois aparelhos respiratórios. As brânquias, para a respiração aquática, e a bexiga natatória modificada, para funcionar como pulmão na respiração aérea. Essa particularidade é considerada uma vantagem em relação aos outros peixes. Em condições normais o pirarucu fica de 20 a 30 minutos submerso, mas se ele se sentir ameaçado, prende mais ar e pode ficar até 1h30 debaixo da água”.

Em relação a uma possível superpopulação de pirarucu no rio Pacaás, o biólogo ressalta que o problema vai muito além do desequilíbrio ambiental que vem sendo sentido pelos moradores da Resex. “Essa região é muito rica em biodiversidade ainda desconhecida. E como o pirarucu adulto pode comer até 60 quilos de peixes por dia, ele pode estar acabando inclusive com espécies ainda não catalogadas. Um impacto para a ciência que pode ser irreversível”, diz o biólogo.

CURIOSIDADES



Levantamento está sendo feito em baías e poços da Resex

O nome pirarucu (Arapaima gigas) vem de dois termos indígenas pira, “peixe”, e urucum, “vermelho”, devido à cor de sua cauda. É considerado um dos maiores peixes de escamas de água doce do mundo, podendo chegar a três metros e vinte centímetros de comprimento e 330 quilos quando adulto.

O pirarucu é encontrado, principalmente em áreas de várzea, onde as águas são mais calmas. A espécie é o que os biólogos chamam de “topo de cadeia”, ou seja, não tem predador para ele e pode causar desequilíbrio na ictiofauna. “Com a comprovação que tem um exemplar que seja, e já encontramos, é prejudicial para eles aqui. Temos que encontrar alternativas para resolver o problema, porque estando aqui o pirarucu é um invasor “, destaca o biólogo.

RESULTADOS

Segundo Diego, até o momento já foram monitorados 12 pontos de amostragem com sistema de georreferenciamentos de diversos pontos, incluindo o Lago Cantagalo, Lago de Espanha, Lago de Lama, Baía do Cigano e vai continuar mais uma semana descendo o rio. O estudo que deve ser concluído nos próximos dias vai gerar um relatório. “Com os dados que saírem daqui vamos conseguir entender mais a dinâmica do pirarucu nesta reserva e o impacto que ele pode causar”, finaliza.



Pirarucu é comparado ao bacalhau devido a característica da carne

FUTURO

Caso seja encontrada uma grande quantidade da espécie poderá ser feito um plano de manejo para o abate do pirarucu, a exemplo do que já é feito pelos moradores de Guajará-Mirim, em Rondônia, e Mamirauá, no Amazonas.

Mas no caso da Resex Pacaás Novos terá que ser feito um ajuste na legislação tendo em vista que por se tratar de uma reserva extrativista, o peixe ainda não está incluído entre os produtos que podem ser comercializados pelos moradores.

Muitas vezes o pirarucu chega ao mercado em mantas, depois de passar por processo de salga ao sol. É conhecido também como o bacalhau da Amazônia devido ao sabor e qualidade da carne, quase sem espinhas.
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